Solidão – um problema de saúde pública

Solidão – um problema de saúde pública

     Nenhuma musa inspirou tantos poetas, escritores e compositores como esse estado triste da alma em que estar só significa ter sido excluído ou abandonado. Homens e mulheres, indistintamente, sofrem com a solidão ao longo da vida e sentem-se cada vez mais sós à medida em que a idade avança. Parentes ficam pelo caminho, amigos deixam de estar ao alcance de um telefonema, ídolos da juventude, repentinamente, morrem no noticiário. Todas as perdas acumuladas ampliam a solidão de alguém com 60+.

A solidão da pessoa idosa é um problema de saúde pública. Em muitos países, agravou-se após a pandemia e cobram medidas dos governantes. No Japão e na Grã-Bretanha já existe um Ministério da Solidão para coordenar ações e reduzir os danos por ela causados. Na América Latina, o Chile está na frente, com programas desde a década de 1990. No Brasil, segundo o IBGE, a população de pessoas com 60 anos ou mais quase duplicou entre 2000 e 2023, saltando de 8,7% para 15,6% da população – ou de 15,2 milhões para 33 milhões, em números absolutos. Muitos deles são a “pessoa referência” da família, aquele que, pela renda garantida da aposentadoria ou programa social, torna-se responsável pelo pagamento dos gastos de moradia. A miséria estrutural e a distribuição desigual da renda transferem para o município a maior parte das ações.

“Falamos, entre médicos, que a solidão pode matar. E mata mesmo”, diz o médico geriatra Milton Crenitte, palestrante, consultor da Unesco e colunista do canal ViverTV+. “O impacto da solidão pode ser tanto mental quanto físico”, antes de listar as enfermidades relacionadas. “Diabetes, hipertensão, depressão, obesidade, anorexia, sono de má qualidade, entre outros sintomas, são indicadores de solidão mal resolvida, que também pode estar provocando depressão, ansiedade, baixa adesão a programas de atividade física, dificuldade para reduzir o uso do cigarro, descontrole com bebidas alcoólicas, maior risco de transtorno cognitivo e, por fim, demência. É, sem dúvida, uma grande ameaça à saúde”.

Os médicos especialistas que discutem a solidão como doença importaram a palavra “solitude”, como sinônimo da solidão bem resolvida – a que se tornou uma opção de vida. No original, em inglês, solitude significa o mesmo que solidão forçada, indesejada, como canta Billie Holiday em um clássico da música popular norte-americana. Solidão ou solitude, o convívio e o apoio de amigos e familiares é indispensável.

(EspeciaL para o Jornal da Orla e ViverTV+)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *