Aposentadoria na cabeça

Aposentadoria na cabeça

Aposentadoria é uma faca de dois gumes. Para muitas pessoas é a sonhada transição do trabalho para o “dolce far niente”. Porém, a celebração guarda uma boa dose de perigo. Pesquisas realizadas na Europa com mais de 8 mil aposentados revelaram que a memória verbal, ou seja, a capacidade de lembrar palavras após um intervalo de tempo, tende a declinar mais rapidamente após a aposentadoria em comparação com o período profissionalmente ativo. Esse fenômeno é atribuído às perdas de estímulos diários que o trabalho proporciona, como resolver problemas, interagir com colegas, realizar tarefas e manter uma rotina estruturada. O professor Ross Andel, da Universidade do Arizona nos Estados Unidos, explica que, “ao se aposentar, o indivíduo deixa de lado atividades que desafiam o cérebro regularmente e podem levar a uma deterioração natural das funções cognitivas”. A falta de engajamento mental, segundo ele, faz com que o corpo e a mente se acomodem à inatividade, acelerando processos de envelhecimento cerebral, o que eleva o risco de doenças como depressão, transtornos de ansiedade e de personalidade. 

A rotina de trabalho, com horários fixos e demandas constantes, exerce um papel crucial na manutenção da saúde cerebral. Quando a programação desaparece, o cérebro entra num estado de “repouso forçado”, reduzindo a ativação de áreas responsáveis por memória, concentração e resolução de problemas.

Outro aspecto importante é a socialização. O ambiente de trabalho, mesmo com suas tensões, oferece oportunidades diárias de interação humana, um fator essencial para o bem-estar mental. Por fim, a inatividade física, que frequentemente acompanha essa fase, é outro fator de risco. Sem a necessidade de se deslocar para o trabalho ou realizar tarefas laborais, muitos aposentados reduzem o nível de exercícios, o que também afeta o funcionamento do cérebro. A prática de atividades físicas estimula a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, responsáveis pela sensação de bem-estar, além de promover a neurogênese, que é o processo de formação de novos neurônios.

A boa notícia é que a aposentadoria não precisa ser sinônimo de perda. Giacomo Pasini, professor da Universidade de Veneza, destaca que o cérebro tem uma capacidade impressionante de recuperação, mesmo em idades avançadas.

Então tome nota do que é preciso fazer para reduzir o risco pós-aposentadoria:

Boas práticas ajudam a criar uma rotina. A passividade acelera o envelhecimento cerebral. Sem estímulos regulares, as conexões neurais enfraquecem, e funções como memória e atenção começam a falhar. A diferença entre um cérebro saudável e um em declínio, portanto, está nas escolhas feitas após o fim do trabalho. Então, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje:

•    Investir no aprendizado contínuo: estudar algo novo, como uma língua estrangeira ou uma habilidade técnica, ativa áreas do cérebro relacionadas à memória e ao raciocínio.

•    Praticar exercícios físicos: caminhadas, musculação ou ioga aumentam o fluxo sanguíneo cerebral e estimulam a produção de novos neurônios.

•    Realizar trabalho voluntário: participar de projetos comunitários mantém a socialização, fortalece o senso de propósito e reduz o risco de depressão.

•    Adotar hobbies criativos: pintura, música ou escrita desafiam o cérebro e promovem bem-estar emocional.

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