IA exige cuidados e precisa ser melhor debatida no Congresso e na sociedade

IA exige cuidados e precisa ser melhor debatida no Congresso e na sociedade

Dia 7 de janeiro passado, os usuários das redes sociais acordaram preocupados com o anúncio de Mark Zuckerberg, presidente executivo da Meta, informando que a empresa irá abandonar a checagem independente de fatos no Facebook e no Instagram. A checagem, até então conduzida por especialistas e jornalistas, será substituída por “notas da comunidade”, um sistema aberto aos usuários, em modelo semelhante ao do X. Em sua defesa, Zuckerberg disse que os moderadores profissionais utilizados são “muito tendenciosos politicamente” e que era “hora de voltar às nossas raízes, da liberdade de expressão”.

O anúncio foi celebrado, especialmente, pelos difusores de fakenews e por apoiadores do presidente Donald Trump, que classificaram a medida como um esforço para “reduzir a censura” no Facebook e Instagram. A decisão também faz parte de uma estratégia de aproximação da Meta com o novo governo, que tem o apoio de diversos líderes das big-techs, entre eles Elon Musk.

As consequências da decisão devem surgir com o tempo e nossa preocupação está ligada aos efeitos dessa “liberação” junto à população sênior, mais suscetível aos atrativos das redes sociais, que podem gerar riscos maiores que os benefícios.

DILEMA DIGITAL
O dilema que se apresenta é relevante. De um lado sabemos que IA pode contribuir – e muito – para a qualidade de vida das pessoas ao longo do tempo, especialmente em aplicações de biotecnologia, ciência e educação, além de atividades profissionais e produtivas. Porém, persiste um risco menos explorado e relativamente novo, que é a ameaça a privacidade e a liberdade cognitiva propiciada por interfaces cérebro-máquina, que estão em desenvolvimento. Segundo alguns pesquisadores, a falta de uma regulação nessa área tende a ampliar a exclusão social, gerando novas formas de desigualdade.

Pesquisa do McKinsey Global Institute estima que, até 2030, a IA poderá gerar um impacto econômico de US$ 13 trilhões por ano. A proposta se baseia na capacidade da IA de automatizar tarefas, aumentar a produtividade e criar novas oportunidades em diversos setores. No entanto, é crucial analisar criticamente como essa riqueza será distribuída e quais os possíveis impactos sociais dessa transformação econômica. A automação em massa, por exemplo, pode gerar desemprego e aprofundar a desigualdade social, especialmente em países com trabalhadores menos qualificados e altos índices de desigualdade. Em paralelo, é preciso avaliar com atenção como as inovações decorrentes do uso de IA afetam a vida da população idosa, crescente em todo mundo e menos habilitada no domínio de novas tecnologias e no comportamento dos algoritmos, capazes de moldar hábitos de consumo e opiniões.

RISCOS E DESAFIOS
Diante dos riscos e desafios da inovação tecnológica, a promoção do uso ético e responsável da tecnologia torna-se um imperativo. É preciso garantir que a tecnologia seja utilizada para o bem da humanidade, em especial da população idosa, e não para o controle e a manipulação.A criação de mecanismos de controle e regulação da IA, a proteção de dados pessoais, a transparência no uso de algoritmos e a promoção da inclusão digital de forma ética e responsável são medidas cruciais para garantir que a tecnologia seja utilizada para promover o bem-estar e a justiça social.

É fundamental que o desenvolvimento e a aplicação da IA sejam guiados por princípios éticos sólidos, como:

  • Privacidade: Garantir a proteção dos dados pessoais e da privacidade mental dos indivíduos, evitando o uso de tecnologias de “leitura mental” para fins de manipulação ou controle.
  • Autonomia: Assegurar que os indivíduos tenham controle sobre suas próprias decisões e ações, sem interferência indevida de algoritmos ou sistemas de IA.
  • Justiça: Promover a equidade e evitar a discriminação no desenvolvimento e aplicação da IA, garantindo que os benefícios da tecnologia sejam acessíveis a todos, independentemente de idade, gênero, raça ou condição social.
  • Beneficência: Utilizar a IA para promover o bem-estar humano, em áreas como saúde, educação e segurança, e evitar o uso da tecnologia para fins nocivos ou maliciosos.
  • Responsabilidade: Desenvolver mecanismos de responsabilização para o uso da IA, garantindo que os desenvolvedores e usuários sejam responsáveis pelas consequências de suas ações.

O PAPEL DOS GOVERNOS
As políticas públicas têm um papel crucial na promoção do uso ético e responsável da tecnologia, especialmente no relacionamento com a população idosa. É preciso garantir que a tecnologia seja utilizada para o bem da humanidade e não para o controle e manipulação.
O Brasil está dando passos importantes nesse sentido, ainda que tímidos, pois tanto o Congresso quanto a sociedade debate pouco esse tema, especialmente quando se trata da relação de IA com a população 50+,  público que já é superior a 55 milhões. A Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (#EBIA), lançada pelo governo brasileiro, é uma iniciativa importante. Visa promover o desenvolvimento e a aplicação da IA de forma ética e responsável, com foco em áreas como saúde, educação e segurança pública. A EBIA destaca a importância de garantir a privacidade, a segurança e a transparência no uso da IA, além de promover a inclusão digital e o desenvolvimento de talentos na área. Resta monitorar quanto a teoria irá se traduzir em prática aplicada.

A inovação tecnológica, embora traga avanços e benefícios inegáveis, apresenta riscos que bloqueiam atenção e ação. A população idosa, em particular, enfrenta desafios específicos no acesso e adaptação às novas tecnologias, tornando-se mais vulnerável à exclusão social, à manipulação e à perda de autonomia.
A garantia do uso ético e responsável da tecnologia, com foco na inclusão digital, na privacidade e na liberdade cognitiva, é crucial para que uma sociedade como um todo possa usufruir dos benefícios da era digital de forma justa e equitativa. A educação, a conscientização e a criação de mecanismos de controle e regulação são pilares fundamentais para evitar que a tecnologia, em vez de libertar, aprisione a humanidade em um futuro distópico.
A crescente integração da tecnologia em nossas vidas exige uma reflexão profunda sobre seus impactos sociais, éticos e econômicos. A população idosa, muitas vezes deixada para trás nesse processo de transformação digital, precisa ser incluída de forma ativa e consciente, garantindo que a tecnologia seja utilizada para promover sua autonomia, bem-estar e participação plena na sociedade.
É preciso agir agora para construir um futuro digital inclusivo, ético e humano, onde a tecnologia seja uma ferramenta de empoderamento e liberdade para todos, independentemente da idade. A responsabilidade por esse futuro deve ser compartilhada por governos, empresas, instituições de pesquisa e população em geral. A hora de agir é agora, para que a promessa de um futuro tecnológico brilhante não se transforme num dilema intransponível para as gerações futuras.

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