Andréa Werner, deputada com TEA, defende residências para idosos com autismo

Andréa Werner, deputada com TEA, defende residências para idosos com autismo

ENTREVISTA

A deputada estadual Andréa Werner completará 50 anos em novembro próximo, mas só recentemente descobriu ter o Transporto do Espectro Autista (TEA). Seu filho, Theo, recebeu o mesmo diagnóstico há mais de dez anos. Jornalista, “mãe atípica”, revelou-se ativista com seu blog “Lagarta vira pupa”, hoje uma instituição de acolhimento e orientação para pessoas com deficiência, familiares e cuidadores. Elegeu-se na terceira tentativa, pelo PSB, em 2022. Presta orientação jurídica gratuita, e seu gabinete é um dos mais movimentados da Assembleia Legislativa de São Paulo. Nos dois primeiros anos de mandato, apresentou mais de 110 projetos de lei, prestou 60 mil atendimentos, protocolou mais de 4 mil denúncias de violações de direitos, e mobilizou o Ministério Público para abrir dez inquéritos. Atua acima das diferenças partidárias, e colhe apoios à direita e à esquerda. Um dos projetos de leis que criou foi sancionada pelo governo em outubro passado, e determina que se elimine toda barreira física ou arquitetônica dos prédios do Poupatempo e dos órgãos que emitem documentos, proibindo atitudes e comportamentos que dificultem o acesso, e autorizando mudança de local de equipamentos para adequação às necessidades de pessoas com deficiência física ou com transtornos do neurodesenvolvimento. Andréa Werner preside, desde 2023, a Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Como a senhora chegou ao diagnóstico de autismo?

Eu estava com 47 anos quando descobri estar no espectro autista. Quando meu filho, Theo, era pequeno, eu via muitos comportamentos dele que eu lembrei que tinha quando eu era criança, e me identificava. Mais tarde, fui diagnosticada com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e fiquei achando que era isso, porque o TDAH tem características em comum com o autismo – então, eu jogava tudo na conta do TDAH. Aos 47. resolvi fazer uma avaliação sobre autismo depois de alguns meses sendo provocada por algumas amigas autistas de que eu não era só TDAH.

Qual particularidade do comportamento de Theo chamou sua atenção?

Vou falar de comportamentos que o Théo tinha e em que eu também me identificava, porque fazia parecido quando era criança. Ele tinha uma mania de se deitar pertinho da parede, com o rostinho no chão, e ficava encostado ali. A primeira vez que vi, logo pensei: “ele está buscando o geladinho [do chão]”,porque é exatamente o que eu fazia: eu me deitava na cama e ficava toda encostada na parede buscando o geladinho. Isso é algo que ele fazia e que eu lembro de fazer também quando criança.

Seu diagnóstico como autista foi demorado?

O meu processo foi longo, demorou cerca de seis meses, porque não é fácil diagnosticar uma mulher adulta que mascarou a vida inteira, e com altas habilidades, como era o meu caso. Foram mais de dez consultas com psicóloga, entrevista com meus pais, meu marido, amigos, e algumas escalas de diagnósticos para que se construísse esse laudo.

Qual foi a sua reação ao receber o diagnóstico de autismo?

Não sei definir dizer direito, talvez porque uma das características do autismo é a alexitimia, que é a dificuldade de verbalizar emoções, identificá-las. Eu lembro que fiquei pensativa e digerindo essa história por um tempo, contei só para pessoas muito próximas, e a maioria disse que já desconfiava. Mas, aos poucos, gravei a minha devolutiva e recebi um relatório de 29 páginas, que reli várias vezes. Aí começou a fazer muito sentido, comecei a entender como a avaliação foi mesmo completa, para não deixar nenhuma margem para dúvidas. Então, comecei a pensar em algumas coisas da minha infância e adolescência, e as pecinhas foram se encaixando, e as coisas foram fazendo sentido. De certa forma, foi um fechamento para uma história na qual faltavam umas peças para encaixar, sabe? A história de uma infância e uma adolescência com tantos traumas e tanta dificuldade para entender que, na verdade, eu não era defeituosa: eu tinha uma condição.

Existe algum preparo do Estado para acompanhar e cuidar de idosos autistas?

Não existe nem mesmo para cuidar de idosos sem condição do espectro, que dirá para idosos com alguma deficiência? Por isso, são cada vez mais necessárias políticas públicas para essas pessoas. Nesse sentido, tenho um projeto de lei, o 179/2024, que propõe a criação de um programa de residências inclusivas e assistidas para adultos autistas com alta necessidade de suporte e apoio. Hoje, no nosso Estado, o mais rico do Brasil, não há um programa que ofereça uma alternativa para esse público. A consequência é que esses autistas vão morar na rua, passam fome, ficam completamente negligenciados. Isso não pode ficar assim. Isso tem que mudar. Além do meu projeto de lei, tenho também um abaixo-assinado para a criação de residências inclusivas e assistidas. Vou dar o endereço para que as pessoas se manifestem e a se tornar uma lei estadual. (https://www.andreawerner.com.br/residenciasinclusivas).

Crédito Fotos: Aline Borguesan/Divulgação

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