Não se tratava apenas de um gênero musical, mas também de comportamento. A maioria dos jovens brasileiros ignorava a Guerra Fria, preferindo curtir cabelos longos, dedos cheios de anéis, calças boca de sino, minissaias e pensamentos simples, quase sempre inocentes. Para a crítica musical, a mocidade se dividia em duas partes: uma, que enfrentava a ditadura e procurava acordes dissonantes da Bossa Nova e resgatava sambas antigos no violão: outra, com gíria própria, guitarra elétrica, politicamente alienada e poucos acordes. De um lado, Zimbo Trio, Geraldo Vandré, cantores de protesto e passeatas contra a guitarra; do outro, Elvis Presley, Bill Haley e seus Cometas e Bobby Darin. Os primeiros misturavam samba com jazz, os outros produziam dezenas de versões de sucessos estrangeiros. Uns cantavam “Carcará” e “Morte e vida Severina”, outros “Splish Splash”, “Estúpido Cupido” e “Ritmo da chuva”.
Esse é o universo de “Minha fama de mau”, do ator e diretor Lui Farias, filho do também cineasta Roberto Farias. O filme, disponível no Netflix, traz a biografia do cantor e compositor Erasmo Carlos, o Tremendão, interpretado por Chay Suede, e mostra o Brasil da segunda metade dos anos 60 a partir do Teatro Record, na rua da Consolação, em São Paulo, de onde era transmitido, ao vivo, somente para a capital paulista, o programa “Jovem Guarda”. Uma vez gravado, era distribuído para os demais estados, disseminando a música de Roberto, Erasmo e Wanderléia para o restante do país. Várias cenas são reais, inéditas. Não é uma obra prima, mas merece ser visto pelas boas lembranças. Afinal, broto também tem saudades.
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