O mesmo sucesso dos Beatles que fez Djavan ver as infinitas possibilidades do acorde perfeito, também aparece na história de Tom Jobim. Aconteceu em 1965, quando ele passava mais uma temporada nos Estados Unidos dedicada às entrevistas e gravações que passaram a ocupar sua agenda, desde a apresentação da bossa nova no Carnegie Hall, Nova York, em 1962.
Em três anos, o novo ritmo brasileiro se espalhou como fogo no palheiro, com “Garota de Ipanema” à frente, na voz de Astrud Gilberto, então casada com João Gilberto. Na versão para o inglês, a garota mudou de sexo para “Boy from Ipanema”. De Elvis Presley e Dizzie Gillespy, de Ella Fitzgerald a Petula Clark, até mesmo o cantor Andy Willians, dono do programa líder de audiência na CBS, “Andy Wllians Show” embarcou na nova música vinda do Brasil.
Gary McFarland, um músico muito conceituado entre os jazzistas, também foi um deles. Cantor, vibrafonista, orquestrador, McFarland convidou Tom Jobim para tocar violão em duas canções de seu álbum, “Soft Samba”, com todas as faixas do disco sendo uma transposição de sucessos daquele período para o novo ritmo brasileiro. O violão de Tom Jobim acompanha dois sucessos de Lennon & McCarney daquele ano – “And I love her” e “I wanna hold your hand”, justamente a que abriu novos horizontes para Djavan (veja “O acorde perfeito dos Beatles que mudou a música de Djavan”). O terreno era minado, pois parte da mídia e da crítica especializada do Brasil considerava a bossa nova um pastiche do jazz. Tocar iê-iê-iê com roupa de bossa nova receberia pedradas, mas Jobim não se importou – gravou e permitiu que seu nome constasse na ficha técnica.
Ainda em 1965, outro jazzista conceituado na noite novaiorquina, o pianista Jack Wilson, convidou Tom para participar, também como violonista, do álbum “Brazilian Mancini”. Cachê: 210 dólares. O álbum traz composições de Henry Mancini, um dos maiores compositores de trilhas sonoras de todos os tempos – “Peten Gunnn”, “Moon River”, “A Pantera Cor-de-rosa”, “Um convidado bem trapalhão” e “Charada”, por exemplo. Todas as faixas são uma transposição do original para o ritmo brasileiro. Por questões contratuais, o nome de Jobim não poderia aparecer nos créditos. Nasce, então, Tony Brazil, totalmente desconhecido. “Brazilian Mancini” entrou para a história como o disco secreto de Tom Jobim.
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